Mulheres empreendem mais no Brasil

Pela primeira vez as mulheres brasileiras conseguiram ultrapassar os homens no nível de empreendedorismo, ficando em 7º lugar no ranking mundial

Em 2007, as brasileiras representavam 52% dos empreendedores adultos no País
Brasília – A mulher brasileira está definitivamente conquistando seu espaço na economia contemporânea. Pela primeira vez, o nível de empreendedorismo entre as mulheres ultrapassou o dos homens. O dado foi constatado pelo mais recente Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2007), estudo que mede as taxas do empreendedorismo mundial, cujo relatório foi divulgado, nesta quarta-feira (19), em São Paulo.

As mulheres brasileiras ocuparam, em 2007, o 7º lugar, no ranking mundial como mais empreendedoras, com uma taxa de 12,71% (aproximadamente 8 milhões). Liderando o ranking estão Peru (26,06%), Tailândia (25,95%), Colômbia (18,77%), Venezuela (16,81%), República Dominicana (14,50%) e China (13,43%). Os últimos lugares foram ocupados por Letônia (1,41%), Rússia (1,64%), Áustria (1,84%), Bélgica (1,98%) e França (2,21%).

Em 2007, as brasileiras representavam 52% dos empreendedores adultos (18 a 64 anos) no Brasil, invertendo uma tendência histórica quando considerado o período 2001-2007. Em 2001 os homens empreendedores representavam 71% contra 29% das mulheres. Embora a taxa de empreendedorismo feminino esteja crescendo, a necessidade ainda é fator marcante de motivação para a mulher iniciar o empreendimento. Enquanto 38% dos homens empreendem por necessidade, essa proporção aumenta para 63% para as mulheres.

Esses dados confirmam a tendência apresentada pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2006), que indicam que as mulheres buscam alternativa de empreendimentos para complementar a renda familiar, ou ainda porque nos últimos anos elas vêm assumindo cada vez mais o sustento do lar como chefe de família.

Do ponto de vista da motivação da mulher de empreender por oportunidade, houve uma diminuição da proporção em relação ao homem, se considerado o período 2001-2007. Ou seja, em 2007, a motivação para empreender em busca de oportunidade é de 46% contra 54% dos homens.

Em outras palavras, em relação aos anos anteriores considerados, a mulher está empreendendo mais por oportunidade (média de 40%). Contudo, considerando a evolução no período 2001-2007, observa-se um crescimento constante da participação da mulher empreendedora tanto por oportunidade como por necessidade.

As atividades em que a ação de empreendedorismo feminina se realiza estão especialmente no comércio varejista (37%) – artigos de vestuário e complementos -, na indústria de transformação (27%) – confecções, fabricação de produtos alimentícios, fabricação de malas, bolsas, valises e outros artefatos para viagem de qualquer material -, e na atividade de alojamento e alimentação (14%). O estudo também revela que em 2007 a mulher supera a participação do homem nos empreendimentos de estágio nascente (53%) e nos empreendimentos novos (52%), porém, é minoria nos empreendimentos estabelecidos (38% contra 62%).

A pesquisa demonstra que a dificuldade da mulher em se estabelecer como empreendedora pode partir de duas tendências: pode ser que ela encontre barreiras para transformar seu empreendimento em uma atividade consolidada no mercado, ou devido à entrada mais recente da mulher na atividade empreendedora, os novos empreendimentos ainda não tiveram tempo para consolidar-se no mercado.

Para o diretor-técnico do Sebrae Nacional, Luiz Carlos Barboza, as mulheres têm conquistado espaço não só no mundo dos negócios, como também em todos os campos da atividade humana. “Creio que, com o esperado crescimento da economia brasileira nos próximos anos, também poderemos assistir essa reversão entre as mulheres empreendedoras. É de se esperar que gradativamente ocorra uma diminuição do empreendedorismo por necessidade entre as mulheres”, afirma.

O diretor acredita que, pelo fato das mulheres terem maior escolaridade, elas poderão se preparar mais antes de abrir sua empresa. Assim, examinando as possibilidades que o mercado oferece, poderá ter um aumento do empreendedorismo por oportunidade gerando negócios mais competitivos e sustentáveis.

No item que analisa a mentalidade dos empreendedores brasileiros, homens e mulheres foram questionados sobre a sua preocupação com relação ao meio ambiente. Ambos os entrevistados afirmaram concordar totalmente (63,9%) quanto à opção de compra junto a empresas que se preocupam com questões ambientais. Ou seja, tanto mulheres como homens têm consciência associada à preocupação ambiental.

Remuneração

Segundo dados do Pnad, é crescente a participação feminina na População Economicamente Ativa (PEA). A participação delas no mercado de trabalho tem sido cada vez mais expressiva, representando 42,6 milhões de mulheres em 2006, com crescimento constante dessa participação.

Porém, embora a mulher venha conquistando esse espaço, ainda existe uma elevada disparidade no que se refere à remuneração. As mulheres ocupam a maior parte dos postos de trabalho nas faixas de até um salário mínimo e sem rendimento. A participação dos homens vai aumentando à medida que aumentam as classes de rendimento.

Para a pesquisadora do Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), Simara Greco,“é fundamental que as políticas públicas de apoio ao empreendedorismo levem em conta as especificidades das condições laborais femininas para que o envolvimento da mulher em novos negócios saia da condição de trabalho precário e passe a significar real inclusão social, aumento de empreendimentos sólidos e realização pessoal da mulher”, afirma.

Escolaridade

As mulheres também já são maioria nas categorias de maior escolaridade nas áreas urbanas, onde a escolaridade média das mulheres é de 7,4 anos para a população total e de 8,9 anos para as que estão no mercado de trabalho. No Brasil rural, essas médias são baixas e se distanciam consideravelmente das áreas urbanas, 4,5 anos e 4,7 anos, respectivamente.

Quando se observa a ação empreendedora e sua relação com o nível de escolaridade, percebe-se uma mudança importante no período de 2002-2007. Em 2002, os empreendedores sem educação formal e aqueles com até quatro anos de estudo representavam pouco mais da metade do total de empreendedores (50,8%). Já em 2007, os empreendedores situados nessa mesma faixa de escolaridade não alcançaram os 30%. Situação inversa e positiva observa-se em 2007 na população dos empreendedores com mais de cinco anos de escolaridade, que passaram de 50% em 2001 para 71%.

Em 2007, 57% dos empreendedores iniciais tinham uma renda familiar de menos de três salários mínimos, aspecto que tende a colaborar para a entrada da mulher e do jovem no mercado de trabalho.

Faixa etária

Segundo dados do GEM 2007, somente 14% dos empreendedores por oportunidade são jovens (18 a 24 anos), para uma proporção de 25% de empreendedores por necessidade. Ou seja, o jovem assim como a mulher está empreendendo mais por necessidade. É um jovem em busca de entrar no mercado de trabalho, com necessidade de garantir sua sobrevivência, ser reconhecido, conhecer e construir sua identidade.

A tendência geral da população jovem é ter uma representatividade maior nos empreendimentos nascentes e novos em 2007, enquanto nas empresas estabelecidas os empreendedores com idades mais avançadas, principalmente entre 35 a 44 anos, são os que têm maior representatividade. Cerca de 20% dos empreendimentos novos e nascentes são de empreendedores na faixa de 18 a 24 anos. No entanto, somente 5% dos empreendedores dessa faixa etária são representantes de empresas estabelecidas.

A figura do empreendedor masculino na faixa etária de 25 a 44 anos ainda é predominante na dinâmica social e econômica brasileira. No Brasil, no período de 2001-2007, em torno de aproximadamente 60% dos empreendedores iniciais encontravam-se na faixa de 25 a 44 anos, não se observando mudanças significativas.

Em consideração à inversão da tendência observada de 2001 a 2006 em relação a gênero, pode-se concluir que esse é o empreendedor dominantemente do sexo masculino. Esse mesmo segmento, quando analisado por motivação, empreende mais por oportunidade do que por necessidade, 63% para 58%, respectivamente.

Livro Gem 2007
http://www.sebrae.com.br/customizado/estudos-e-pesquisas/estudos-e-pesquisas/empreendedorismo-no-brasil-pesquisa-gem/livro_gem_2007.pdf

Resumo Gem 2007
http://www.sebrae.com.br/customizado/estudos-e-pesquisas/estudos-e-pesquisas/empreendedorismo-no-brasil-pesquisa-gem/resumo_gem_2007.pdf