Empresa de controle familiar: A importância da boa Governança para o fortalecimento e longevidade

Antes uma discussão concentrada apenas em empresas de capital aberto, listadas em bolsa, a Governança Corporativa, segundo lembra o presidente do Conselho de Administração do IBGC, Gilberto Mifano, “ há muito é vista pelo Instituto como um conjunto de ferramentas que interessa a qualquer empresa, de qualquer tamanho e em qualquer estagio do seu ciclo de vida, e não como um tema exclusivo de empresas que acessam o mercado de capitais”. A prova disso, comenta esta no atual quadro de associados do IBGC. Aproximadamente 86% dos seus mais de 1.700 associados são direta ou indiretamente ligados a empresas fechadas, a maioria familiares, do tipo em que a família ainda esta na gestão do negocio e não tem, no curto prazo, o objetivo de abrir capital. “ Essas empresas se interessam por Governança Corporativa como uma forma de lidar com as suas próprias questões: de crescimento, de desempenho, de sucessão na propriedade, de sua própria gestão, de transparência e do convívio na sociedade onde estão instaladas.” Por outro lado, “hoje os investidores reconhecem que, quando tem uma família envolvida, isso muitas vezes pode se assemelhar a um seguro”, destaca Mifano. Segundo ele, há 20 anos a situação era outra: “ Essas empresas muitas vezes eram malvistas pelos investidores”. Para Mifano, “ a cultura da empresa pode contribuir positivamente para o seu êxito quando a família tem fundamentos éticos e valores, e isso é transmitido e preservado dentro da empresa”. Com opinião semelhante, Decio da Silva, presidente do conselho da WEG – empresa familiar que completa 50 anos em 2011, e quem em 2007 migrou para o Novo Mercado -, acredita que “ a cultura das organizações tem de ser passada para todas as gerações e para toda a empresa ”. Segundo o coordenador da Comissão de RG do IBGC, Josmar Bignotto, o primeiro executivo profissional que substitui um executivo da família normalmente tem grandes dificuldades para fazer o processo de transição. “ Isso esta associado, a meu ver, ao fato de não levar em conta a cultura e os valores da empresa”. Quando começam a surgir os problemas ? Um dos principais problemas enfrentados pelas empresas familiares é, na visão de Mifano, “ a existência de uma confusão entre o que é empresa e o que é família. E isso pode ser negativo”. Silva diz ser muito importante, além da preservação da cultura, “ o profissionalismo tanto familiar quanto não familiar, pois isso conduz à boa gestão” . Na WEG, a decisão de se tratar profissionalmente a companhia foi tomada muito antes de outras empresas da época. Já em 1976, segundo Silva, os três sócios fundadores da empresa optaram por elaborar um acordo de acionistas, criando uma estrutura para os acionistas familiares. Um dos tópicos desse acordo, explica Silva, é o respeito às vocações. O inventivo a sua elaboração, diz, foi a participação dos sócios em seminário organizado pelo consultor João Bosco Lodi, um dos fundadores do IBGC e um dos primeiros a abordar a importância da gestão da empresa familiar no Brasil. Outro ponto que merece atenção na empresa familiar é a sucessão. Muitas vezes, “ confunde-se nessas empresas a reconhecida qualidade de filhos ( não dos filhos ) com a desejada eficácia deles como gestores ”, ressalta Bignotto. Para ele, “ a saída nesses casos passa principalmente pelo conselho de administração, sendo a sucessão uma de suas responsabilidades, assim como o Comitê de RH ”.

Sucessão: questão delicada numa empresa familiar

A Jacto – empresa familiar existente há 63 anos e controlada por cinco holdings, formadas pelos cinco filhos do fundados e mais seus netos – optou por implantar em 2002 um programa de sucessão denominado Programa de Desenvolvimento de Herdeiros. Alessandra Nishimura, membro da terceira geração e coordenadora desse programa, acredita que ele só foi posto em pratica pelo fato de seu avô, Shunji Nishimura, fundador da empresa, ter se afastado voluntariamente aos 70 anos, para cuidar de outros projetos. “ É muito difícil para o fundador desgarrar-se da sua criação, como aconteceu na Jacto”, comenta. Ela também destaca a visão de continuidade da segunda geração para que isso pudesse acontecer. Segundo ela, antes desse programa “ ninguém estava envolvido com a empresa, ninguém trabalhava nela, nem era um acionista de fato”. Hoje, afirma, tem herdeiros trabalhando na Jacto, e a maioria deles tem postura de acionista. Ao final de cada ano, Alessandra Nishimura, como coordenadora do programa, fazia uma avaliação do que foi estudado e da participação de cada um. Isso aconteceu ate 2009, quando o programa foi finalizado por ter cumprido o seu papel de ensino básico. “ Agora, estamos reavaliando o processo, e o próximo passo será a construção de um protocolo da 2ª. para a 3ª. geração, pois, por mais algum tempo, vamos ter essas duas gerações trabalhando juntas.” Hoje, Alessandra Nishimura é também coordenadora das futuras gerações do FBN Brasil ( Family Business Network ).

Conselho de Família: uma ferramenta a favor da empresa

No Grupo Algar, já em sua 3ª. geração, o Conselho de Família foi criado em 2002, “ em um momento em que a gestão desenvolvia um forte trabalho de profissionalização, enquanto que a família preparava os herdeiros”, relata Eleusa Garcia Melgaço, membro do Conselho de Família Algar. O beneficio dessa iniciativa, segundo Melgaço, “ foi a criação de um canal formal entre a família e a gestão, permitindo que assuntos de família passassem a era tratados no Conselho de Família e os de gestão no Conselho de Administração ”. Para Melgaço, “ o bom funcionamento de um conselho de família é a melhor forma para se evitar conflitos e garantir a perenidade e a sustentabilidade da empresa e da família para as próximas gerações ”. Além de atuar no Conselho de Família do Grupo Algar, Melgaço é hoje diretora-executiva do FBN Brasil. Bons negócios,

Laecio Barreiros

L&Barreiros Controladoria

(*) Texto extraído e resumido da 54ª. edição da publicação trimestral do IBGC